Homem e mulher – amigos?

Homem e mulher podem ser amigos? Claro que sim.

Quantas vezes você precisa de alguém para conversar sobre o namorado, sobre uma atitude que não entendeu direito, e nessa hora só um amigo, um grande amigo – do sexo masculino, é claro – para explicar como são os homens, esses seres tão difíceis de entender.

Várias coisas a gente já sabe: que as grandes decisões são sempre tomadas por eles, que entendem de tudo melhor do que nós – até do tempo que leva para cozinhar um ovo. Mas o que deixa qualquer mulher perplexa e magoada é que, mesmo nos amando perdidamente, eles não podem ver um rabo-de-saia sem fazer uma profunda avaliação do assunto; tudo bem, mas será que não dava para dar uma disfarçada? Não, não dá, e até parece que disfarçando perde a graça. Ah, que cafajestes; mas já que não dá para viver sem eles, o remédio é se fingir de cega. Aliás, de cega, surda, muda e sobretudo burra.

É nessa hora que um grande amigo pode ajudar, mostrando que não é só ele que é assim, mas todos os homens de todos os países e de todas as galáxias, e que essas atitudes não têm a menor consequência nem o propósito de nos fazer sofrer. E a gente acredita – tenta, pelo menos.

Um grande amigo pode ajudar até nas coisas mais banais: dizer com que cabelo você fica mais bonita (simplificando: qual agrada mais os homens), como você deve ir vestida àquela festa, até quando deve endurecer o jogo, o momento exato de dizer sim. Um homem conhece bem essa eterna guerra entre os sexos.

Se seu objetivo for o casamento, esse amigo pode dar grandes dicas sobre seu comportamento e maneira de agir. E pode também explicar a razão pela qual ele, depois de passar a noite de sábado inteira dizendo e provando que te ama, te larga sozinha no domingo para ir ao futebol com os amigos. Nenhuma mulher normal entende isso, mas para eles é normalíssimo.

Ter um amigo homem é uma coisa preciosa. Quando você está sozinha, ele te leva às festas – combinam antes que lá dentro cada um para seu lado e liberdade total, sobretudo nenhuma obrigação de irem embora juntos. Se for mesmo muito amigo, pode até, num caso de necessidade, se abraçar com você fingindo que estão apaixonados e vivendo um grande caso de amor. Quantas vezes não se sonha com isso quando “ele” entra com outra?

Um amigo homem leva você para jantar, ao cinema, a uma estreia de teatro, a um show – bem melhor do que um bando de amigas. Leva a uma feijoada quando você está sem programa e, em caso de desespero, para passar o Natal com a família dele. Até empresta o ombro para você chorar quando a barra pesa demais, com direito a passar a mão na sua cabeça. Um amigo desses, como diz Milton, é para se guardar do lado esquerdo do peito, debaixo de sete chaves.

Mas os sentimentos são mesmo complicados, e um dia ele conta que conheceu uma moça muito interessante, que estão saindo juntos; você se irrita profundamente – sem entender por quê. Aí ele diz que quer muito que você a conheça, mas você disfarça; não conhece e já odeia, sabe como é?

Mas o dia chega, e saem os três para jantar; além de achar que a moça é uma total idiota, ainda tem o pior: eles deixam você em casa primeiro – e adeus o último drink para relaxar antes de dormir.

No dia seguinte ele telefona para saber o que você achou dela; num momento de coragem resolve ser sincera e a conversa acaba numa bela cena de ciúmes. Entre tapas e beijos (simbólicos, por telefone) vocês vão começando a se entender – ele com um bom humor que dá até pra desconfiar.

Um belo dia, debaixo dos lençóis, ele vai confessar que foi tudo planejado, que ele só queria uma coisa no mundo: você.

E é nessa hora que vai ter certeza de que amizade entre homem e mulher não existe.

E ainda bem.

(Texto de Danuza Leão)